terça-feira, 16 de novembro de 2010

A magia da leitura – 1ª FLIM – Festa Literária de Madalena

  Falar de Santa Maria Madalena sem citar a grande Dercy parece heresia. E talvez seja – artista maior que a própria história! – mas, façamos nesta pequena crônica uma única referência a sua verve: a estátua gigante a lhe representar, numa das praças da pequenina cidade, dourada e imponente, dá-lhe um ar, assim, como que saída diretamente de um quadro do pintor espanhol surrealista Salvador Dali, num tributo a sua amada esposa Gala! Pareceu-nos um tanto figurativo do que foi Dercy Gonçalves – multifacetada!  Contudo, o tempo passa célere e o futuro está logo aí...     
             Mas, paradoxalmente o futuro em Madalena parece demorar a chegar. Numa breve olhada, logo ao chegar à praça principal, podemos observar uma série de antigos casarões, com suas fachadas multicoloridas e algumas casas de comércio de dar água na boca a qualquer estudante da arquitetura do princípio do século passado. Uma beleza – que dizem, não é mais unanimidade; comprovado por uma ou outra obra de “modernização” de alguns prédios antigos – deve ser preservada sob pena de se perder uma parte importante daquela identidade histórica que paira e encanta a todos que visitam a cidade. 
 Ao eventual leitor, ficará o estranhamento com o uso do advérbio “paradoxalmente”, mas, como citar a vocação da cidade ao turismo tradicional, um tributo a um passado de pujanças imemoriais, olvidando a maravilhosa e especial iniciativa daqueles que demonstraram amar verdadeiramente o seu povo? No último final de semana, pudemos nos deleitar com um evento, que de tão óbvia necessidade e importância do ponto de vista educacional, do tanto que é negligenciado por nossos políticos, infelizmente tem deixado muito jovem a encher as famosas lan houses, na busca de entretenimento – que, não raro de pouquíssima qualidade, mas que ao menos disfarça o tédio e a sede de informação juvenil. Estamos falando da brilhante idéia que se fez presente nesse último final de semana: a 1ª Festa Literária de Madalena, FLIM.
            Sob olhar incrédulo e desconfiado dos mais antigos e a euforia vigorosa dos mais novos, o evento contou com a colaboração imprescindível do poder público, mas, muito mais que isso, extrapolou a mera fomentação esporádica daquilo que se convencionou chamar “política do pão e circo”. O que pudemos ver foi o interessantíssimo engajamento dos jovens, a maioria ali representando suas escolas, na busca daquilo que já deveria ser uma realidade deste nosso “pobre-rico” país: a ligação estreita do povo, especialmente os mais jovens, com a leitura e com todas as formas de arte possíveis à cultura. A festa literária encheu a cidade de leitores ávidos em desfrutar das maravilhas do mundo encantado das letras. Poesias, contos, crônicas, romances, “causos”... tudo na mais perfeita profusão de sorrisos, descobertas e um clima encantador, imprescindível  a qualquer iniciativa desse nível. Ao visitante novato ficou a impressão que ali, naquela pequenina e montanhosa cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro, mora um povo faminto de encantamentos e a singela beleza que somente um Mário Quintana, um Drummond, Clarice Lispector, uma Cecília Meireles, Paulo Leminski, uma Cora Coralina, Florbela Espanca, Fernando Pessoa... podem oferecer! A nós, ficou, além das vistas extasiadas com tanta demonstração de amor aos livros, uma séria constatação: muito acima dos milhões de “royalties” mal empregados pelas vizinhas cidades produtoras de petróleo, muito além dos “olhos” da grande mídia, mais interessada nos dramas e misérias da nossa combalida sociedade de consumo, muito mais que shows esporádicos de cantores recém empossados na categoria de celebridades, que muitas vezes servem como parâmetro do sucesso desta ou daquela administração municipal, por uma grande parcela de eleitores, no geral “analfabetos políticos” - como diria Bertold Brecht... muito além disso tudo, o que importa mesmo para que um povo receba, verdadeiramente, a demonstração de amor por parte de sua elite cultural é o desenvolvimento de parcerias desinteressadas  das benesses financeiras e o reconhecimento do poder público  e privado, o oferecimento de um tipo de entretenimento singelo, mas de fundamental importância na construção do processo de crescimento intelectual: levar leitura, cultura e educação aos que mais se vêem apartados delas, o povo das pequeninas cidades do interior. 


Viva Madalena, viva a FLIM!

3 comentários:

  1. Olá pessoal da Ascat,
    assino embaixo de tudo que está dito neste post.
    Abs.
    Tereza
    P.S: A última foto é maravilhosa! Fiz dezenas de fotos e não consegui uma que resumisse a FLIM e Madalena. Vocês conseguiram!

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  2. Também assino embaixo. E confesso que terei dificuldade ao mesmo tempo similar e diferente: vai ser difícil escrever sobre a FLIM e ser original depois do que foi dito aqui.
    Parabéns! Foi um prazer conhecer vocês!
    Abraços,
    Solange.

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  3. PS: já virei seguidora com meu blog, Na Ponta da Língua.
    Abs.

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